quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Não acordei

O sono é uma espécie de aliado de um universo interior. Quando acordo sem acordar direito fico o restante do dia entre um mundo onírico e o real. A sensação é de que oscilo entre o mais absoluto concreto de ser aqui e agora, e a bruma, a sombra de nunca ser em lugar nenhum.
Hoje, abri os olhos custosamente. Pedi ao relógio alguns dez ou vinte minutos a mais. Clemente e disciplinado me deu o que eu pedi, nada mais, nada menos. Então saí da cama, mas não acordei. Descerrei as pálpebras, mas não veio comigo aquela coisa interior que teria de andar colada a esse corpo completamente real. Tão real que chega a cansar. Objetivo como um lide. Quem, quando, como, onde e por que? Todas essas respostas à flor da pele, nada além dela.
Não é sonambulismo, que sonâmbulo não vê. É um misto de saber, mas não reconhecer. As emoções, então, têm certeza de que podem atravessar os limites que a coesão lhes impõe. Pq a coesão não acordou. Está entre o edredom e o travesseiro.
As respostas prontas e impensadas são apenas um reflexo da confusão que o que está solto por dentro deixa escapar para disfarçar. É como uma identidade secreta ao contrário. Ou uma ocupação. Um corpo estranho que mora em mim antes mesmo de mim.
Então, enquanto essa flutuância some em algum lugar que desconheço - mas que é meu, sou eu -, olho o que é concreto e invejo. Queria isso tudo. Esses brilhos, essa constância, esses sorrisos e festas. Queria o salto alto, o vestido longo. Queria esse conjunto, a grama alheia. Meu ouro se ofusca e parece latão, pq na realidade não está ao alcance. Quando não acordo nada em mim é tangível, nada em mim é real. Sendo completamente concreto. E é esse concreto que me faz querer cerrar esses olhos que enganam ver. Só enganam. Estão fechados, escuros, com sono.

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