sábado, 27 de setembro de 2008

O poema de Abril

Acabo de assistir pela segunda vez ao filme “Abril despedaçado”. Com a minha história hoje percebo que é um filme sobre como mudar as realidades às quais estamos condenados. No início do filme, Tonho é sentenciado: você já amou? Nunca vai amar porque já está morto!
Contra essa sentença, Tonho não apenas ama! É amado, transcende, se alegra. Contra o sistema que faz os bois rodarem mesmo livres, Tonho consegue vencer. Não sozinho, é claro. Ninguém vence uma sentença de morte sozinho. Mas apenas pelo amor. Amor desinteressado do Minino.
A poética aparentemente despretenciosa de “Abril despedaçado” quer levar além. Levar pra ver o mar. Levar para os sonhos mais improváveis. Contra si, contra o sistema, contra a morte anunciada. É uma poética de esperança. Uma poética do inesperado da vida que rompe com as sentenças e leva para o nunca até então imaginado. É sobre quando a morte certa desperta para a vida verdadeira. "A gente é que nem os bois – roda, roda, e não sai do lugar" - Minino.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Dos contrários a mim

Nem todos que são contra meus hábitos ou novas idéias e ideais me querem mal. Nem todo aquele que me atira a pedra se incomoda com a minha aparente felicidade. Nem todos os que colocam obstáculos aos meus sonhos me querem ver pelas costas. Nem todos os que me criticam querem destruir os meus planos. Nem todos que acentuam os meus defeitos se incomodam com as minhas qualidades. Nem todos que apontam meus fracassos querem destruir o meu sucesso. Nem todos que pensam diferente de mim são meus inimigos.
O respeito pelo que é diferente de mim é o primeiro passo para me libertar de qualquer fanatismo. Seja ele religioso, social ou psicológico. Acolher o outro, ainda que ele me machuque, é dizer com Jesus, do alto da Cruz, perdoe, eles não sabem o que fazem. Eu também não sei o que faço. Se isso consola!
Gosto de olhar para a maneira como Jesus acolhe o que é diferente dele. Uma prostituta, um corrupto, um ladrão, um tosco, um sábio medroso, um jovem inexperiente, um rico apegado... E tem a grandeza de não apontar o dedo pra nenhum deles. A reação dEle a quem foi contrário, Pedro (grande Pedrão), foi firme: afasta-te de mim, satanás. Afasta-te de mim, satanás. E não: "afasta-te de mim, Pedro". Jesus nunca repele. É quem é. Os que quiserem que O sigam. Os que não quiserem que sejam amados sempre e aceitos em qualquer instância.
Uma vez me perguntaram como tirar alguém de uma situação de fanatismo. Eu ainda não tenho a resposta, mas acho que encontrei um caminho. Tentar com tudo que tenho não me fechar ao que é diferente de mim. Toda teoria que exclui, fanatiza. Ninguém é melhor do que ninguém. A maioria dos que apontam o dedo e dizem: "somos diferentes, por isso crescemos" são armadilhas para criar um mundo fechado. Felicidade é estar e ser um com a Vida. O que exclui mantêm parte da Vida apartada.
Sou parte acolhida por Jesus do que é diferente dEle. Não tenho muitas escolhas a não ser fazer o mesmo com aqueles que estão à minha volta!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

De alegrias e da Felicidade

Das alegrias que todos deveriam experimentar um dia: pular atrás de um trio elétrico cercado de amigos; carinho de uma pessoa especial; relembrar uma história engraçada; tomar um “gelinho” da dona Marlene num dia quente de trabalho em Rio Preto; cair exausto depois de uma noite em um bar com os amigos ou com alguém que valha a pena; conversar até de madrugada...

Da Felicidade que poucos conseguem: reencontrar-se consigo e com Deus em um silêncio que questiona; compreender em um refrão repetido o cuidado da Vida consigo; reencontrar um grande amigo depois de anos e compreender o valor da própria história; olhar os próprios erros e amar-se porque deu o máximo de si em cada momento, ainda que tudo tenha dado errado; amar e ser amado verdadeiramente...

Esse fim de semana me dividi entre um retiro quase de silêncio e uma micareta. Foi, no mínimo, esquisito. Agora, que a poeira do trio elétrico do Chiclete com Banana baixou e a "fila andou" percebi o quanto fui alegre no domingo à noite. Entendi também que a felicidade, ainda que compreenda alegria, é mais do que a alegria em si. Posso estar triste e ser feliz. Posso estar alegre e ser profundamente triste. Somos ávidos pela alegria, porque temos a certeza de que ela é a causadora da felicidade. Infelizmente, não é. Ou felizmente.
Comparação besta, mas é como a galera que acha que vai emagrecer da noite pro dia. Como se isso não demandasse tempo, dedicação e renúncia de tanto chocolate!!! Entendi agora, que ser feliz requer sacrifícios também, requer algumas renúncias. Nada obrigado. Ninguém emagrece com uma arma na cabeça. Emagrecer passa pela decisão de emagrecer. Seja por motivos de saúde, seja por simples e pura estética.
Há uns dois meses, decidi que estava na hora de criar vergonha nessa cara e emagrecer os 7 quilos que ganhei de Rio Preto. Emagreci dois quilos em dois meses. Nunca gostei de barrinha de cereal, frutas, pão integral e esse monte de frescura light. Mas precisei me decidir. E como é ruim beber coca zero ao invés da tradicional coca-cola de garrafinha!! Mas é bom perceber que minhas calças já começaram a ser gratas aos meus pequenos sacrifícios diários. Não abandonei o chocolate (como eu faria sem ele???), mas tive de diminuir as doses. Não deixei a coca tradicional de lado, mas na maioria das vezes, tenho de escolher a versão mais magra.
Uma coisa boa só vem com um pouquinho de sacrifício. Mamãe sempre ensinou a máxima: minha filha, o que vem fácil vai embora da mesma maneira.
Felicidade é também erguida com base em lágrimas, algumas renúncias e sacrifícios. Não é só isso, claro. Ela também gosta de pular atrás do trio elétrico. Ô, se gosta!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Em defesa do "auxílio crescimento pessoal"

Hoje eu tive de conter as lágrimas diante de uma foto. Não mostrava miséria, muito menos uma cena linda de amor. Vi as fotos de um lugar que tenho uma vontade imensa de conhecer: os lençóis maranhenses.
Não fiquei emocionada pela beleza do lugar, simplesmente. É mais do que isso. Soma-se à TPM o desejo enorme que tenho dentro de mim de viajar (os que me conhecem sabem que não posso ouvir falar em viagem que já tenho uma mochila nas costas). Além disso, em um milésimo de segundo passou pela minha cabeça o quanto o mundo é enorme. Quantos lugares eu queria conhecer...
Daí, me vi em frente ao meu computador no jornal. Desejos tenho aos montes. Me falta dinheiro. Mais do que dinheiro, tempo. Como é possível que no auge da minha década de 20 eu tenha de passar, no mínimo, 8 horas em um mesmo pequeno espaço. Não é justo! Quando meus anos são relativamente poucos e tenho uma saúde boa para alguém da minha idade, tenho de gastar tudo isso trabalhando! É uma baita injustiça.
Gosto de trabalhar. Gosto mesmo! Mas gostaria mais ainda mais se, de três em três meses, talvez, tivesse uns dez dias para viajar. Se a empresa tivesse nesse mesmo período um "auxílio crescimento pessoal". Uma determinada porcentagem que você ganhasse para investir em si: viagem, estudos, cultura... Ah, tem música que fala isso, né? A gente não quer só comida...
Vê se não era para chorar? Engoli o choro e voltei ao texto que escrevia sobre vida animal. É o que me resta, além das contas que esperam meu próximo pagamento!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Liberdade

A liberdade devolvida do ponto de vista de quem a perdeu sem razão, pela injustiça cruel de uma sociedade que busca culpados, ainda que não sejam...

FOLHA DE SÃO PAULO
'Foi um sopro de vida', diz rapaz sobre a soltura
JULIANA COISSIEM, SÃO PAULO
LAURA CAPRIGLIONE, DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira noite que William César de Brito Silva, 28, passou em casa, com a mulher e o filho, depois de dois anos preso acusado de violentar sexualmente e matar uma jovem em 2006, ele passou acordado. Abriu e fechou uma centena de vezes a porta da casa no bairro de Pedra Branca (zona norte de São Paulo). "Para eu acreditar que, de novo, podia abrir e fechar, eu mesmo, as portas da minha vida." Às 6h da manhã, o jovem foi arrancado do quarto como sempre sonhava, quando ainda estava preso. "Meu filho veio pulando na cama: "Acorda, papai, vamos tomar banho'".
Às 6h30, os celulares já tocavam. Eram os repórteres. Só pela manhã, foram entrevistas a três programas de televisão. À tarde, mais entrevistas: a van da emissora de TV levou-os até o estúdio. E lá se foram: os três libertados (além de William, Renato Correia de Brito, 24, e Wagner Conceição da Silva, 25), mais a mulher de William, Natália, dois irmãos e as mães, Iraildes (de Wagner) e Maria Aparecida (de William).
Na gravação do programa, a produção os fez rever o momento em que deixaram o CDP. Choro das mães Iraildes e Maria Aparecida. Os três recém-libertos seguravam o alvará de soltura, mãos trementes, Renato fixado no papel.
Ao final, novos repórteres e mais explicações. A mesma van levou-os a outro estúdio; de lá, foram para Guarulhos, nova entrevista. E, então, de volta às suas casas e à tentativa de retomar a vida. William já arrumou emprego em um comitê eleitoral. Renato e Wagner têm planos de abrir uma pizzaria.

A saída
"Foi um sopro de vida para a gente", rememorou Renato, sobre o momento da saída. Os 250 presos do setor do CDP começaram a sair organizadamente de suas celas anteontem por volta das 13h. Juntaram-se no pátio comum e começaram a aplaudir os três rapazes. "Vocês vão embora, vão embora! São vocês! Vocês vão sair daqui. Vai com Deus! Boa sorte", gritavam os detentos.
Segundo William, comemoravam o que, para eles, era uma confirmação. A "justiça da cadeia", dois anos antes de a Justiça reconhecê-lo, já havia proclamado a inocência dos jovens. Para isso, presos exigiram e obtiveram a íntegra do processo contra os três, que foi lido "de capa a capa". Se fossem "condenados", diz Wagner, "esta história teria acabado muito antes". "Felizmente, alguém além de nossas famílias acreditou em nós."