sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Liberdade

A liberdade devolvida do ponto de vista de quem a perdeu sem razão, pela injustiça cruel de uma sociedade que busca culpados, ainda que não sejam...

FOLHA DE SÃO PAULO
'Foi um sopro de vida', diz rapaz sobre a soltura
JULIANA COISSIEM, SÃO PAULO
LAURA CAPRIGLIONE, DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira noite que William César de Brito Silva, 28, passou em casa, com a mulher e o filho, depois de dois anos preso acusado de violentar sexualmente e matar uma jovem em 2006, ele passou acordado. Abriu e fechou uma centena de vezes a porta da casa no bairro de Pedra Branca (zona norte de São Paulo). "Para eu acreditar que, de novo, podia abrir e fechar, eu mesmo, as portas da minha vida." Às 6h da manhã, o jovem foi arrancado do quarto como sempre sonhava, quando ainda estava preso. "Meu filho veio pulando na cama: "Acorda, papai, vamos tomar banho'".
Às 6h30, os celulares já tocavam. Eram os repórteres. Só pela manhã, foram entrevistas a três programas de televisão. À tarde, mais entrevistas: a van da emissora de TV levou-os até o estúdio. E lá se foram: os três libertados (além de William, Renato Correia de Brito, 24, e Wagner Conceição da Silva, 25), mais a mulher de William, Natália, dois irmãos e as mães, Iraildes (de Wagner) e Maria Aparecida (de William).
Na gravação do programa, a produção os fez rever o momento em que deixaram o CDP. Choro das mães Iraildes e Maria Aparecida. Os três recém-libertos seguravam o alvará de soltura, mãos trementes, Renato fixado no papel.
Ao final, novos repórteres e mais explicações. A mesma van levou-os a outro estúdio; de lá, foram para Guarulhos, nova entrevista. E, então, de volta às suas casas e à tentativa de retomar a vida. William já arrumou emprego em um comitê eleitoral. Renato e Wagner têm planos de abrir uma pizzaria.

A saída
"Foi um sopro de vida para a gente", rememorou Renato, sobre o momento da saída. Os 250 presos do setor do CDP começaram a sair organizadamente de suas celas anteontem por volta das 13h. Juntaram-se no pátio comum e começaram a aplaudir os três rapazes. "Vocês vão embora, vão embora! São vocês! Vocês vão sair daqui. Vai com Deus! Boa sorte", gritavam os detentos.
Segundo William, comemoravam o que, para eles, era uma confirmação. A "justiça da cadeia", dois anos antes de a Justiça reconhecê-lo, já havia proclamado a inocência dos jovens. Para isso, presos exigiram e obtiveram a íntegra do processo contra os três, que foi lido "de capa a capa". Se fossem "condenados", diz Wagner, "esta história teria acabado muito antes". "Felizmente, alguém além de nossas famílias acreditou em nós."

Nenhum comentário: