terça-feira, 27 de outubro de 2009

Planos de eternidade

Li que a perspectiva de uma eternidade é o que faz o ser humano capaz de superar, de projetar-se e crescer. São os planos para amanhã, para o ano que vem ou para daqui alguns anos que dão força quando o agora não consegue saciar. Isso é salvação ou a mais pura armadilha. Salvação quando olho o presente e não consigo vislumbrar a realização que gostaria agora, então, projeto, penso em como fazer, traço meus planos. E isso me faz sentir a Vida. Armadilha pq posso simplesmente abstrair do agora e viver no encantado mundo das minhas fantasias. Sabe, um desabafo, eu não costumava ser tão sensível. Não sei em que momento esse alien se formou aqui dentro e me faz aumentar as coisas, colocar lentes que me ferem por qualquer pedrinha, em que ponto resolvi ser “fingidor”. Mas esse mesmo alien potencializa a alegria cotidiana. Me faz rir da vida. Garante leveza no insustentável. Dura um segundo que pode ser eterno. É o segundo que me projeta, me salva e redime. Ou simplesmente me perde para sempre.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dos pronomes possessivos

Cansada das pessoas. Isso porque devo encontrar nelas o que me limita em mim. Não aguento mais a vaidade, nem a carência, muito menos a falação e as picuinhas próprias de quem respira. Ninguém está realmente preocupado com o que o outro fala. Ninguém está realmente disposto a ouvir. Não sou capaz de ouvir além da China, Mateus. Quando chegamos lá, já cansou o roteiro. O que importa de verdade se você vai até a China ou ao consultório do outro lado da rua com problemas que só dizem respeito a vc mesmo? Se, dentro do meu roteiro coubesse alguém além de mim e do saco de vaidades que carrego sobre os ombros (acabei de tomar um dorflex, quem sabe alivia um pouco), talvez meu itinerário interessasse a mais alguém. Mas não interessa. Estou preocupada demais com o que escrevo, com o que deixo de escrever com o que escreverei. Sou eu o que me preocupa, são as minhas dores, as coisas que em mim são incompreendidas. Preciso das luzes, os holofotes têm de estar sobre mim. Admito dividir o palco com mais uma ou duas pessoas, desde que venham ser escadas para que eu tenha ainda mais destaque, desde que acrescentem algo. Não ao roteiro, mas a mim, à minha história, às minhas dores, às minhas conquistas. Dia desses ouvi que algumas tribos não conheciam o pronome MEU. Nunca gostei de estudar os pronomes POSSESSIVOS. Sempre os achei ofensivos demais. E é só o que são: MEU, MINHA, TEU TUA, SEU, SUA, NOSSOS, NOSSAS, VOSSOS, VOSSAS... Não existe sentido nisso tudo. Preciso de férias em alguma astronave por ai. Como diz uma música da Ceu: voltar pra nave mãe, pra despressurizar. Não cabe mais nada na frase com pronomes possessivos. Não cabe mais nada dentro de um ser que encarnou cada um deles. Fico assim, vazia, escura, sem vida, sem verbos, adjetivos ou adjuntos. É tudo só posse.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

É por isso?

Nunca soube ao certo pq escolhi jornalismo. Uma série de opiniões e acontecimentos me levou à faculdade de comunicação social. Com o tempo, peguei gosto pela coisa e me apaixonei perdidamente. Claro, os tempos são maus e a gente perde isso pelo caminho. Mas sábado foi diferente.
Me sentei na cadeira pra enfrentar o que detesto: pelo menos meia hora de um trem quente que esquenta os cabelos pra discipliná-los, escova (acompanhada de chapinha, of course!). E ela começou:
- Pra quê é a escova?
- Casamento - (que fique claro, DETESTO salão de beleza!). - Todo mundo casando, moça. – Forjei uma simpatia que sempre me falta nessas situações.
- Ah, me casei tarde. Já tinha 38 anos. Praquela época... Mas até casar dei tudo o que podia e não podia. – Riu alto e convidativamente.
E teceu histórias, comentou a vida, política, jornalismo. Desfiou ali, enquanto fazia a festa do estica e puxa nas minhas madeixas, tanto causo e tanto ensinamento que passei fácil pela tortura da chapinha. Enquanto ela falava, eu pensava instintivamente como contar aquelas histórias todas. Nessas horas, entendo a minha escolha. Contar o que é contado é uma das coisas mais incríveis que conheço.

p.s.: não vou conseguir escrever o que ela disse. Foi tão espontâneo. Quem sabe, com mais calma, um dia, quando tudo já estiver mais fermentado com o tempo...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Confesso

A verdade é que eu dependo de vc. Mesmo quando emburro com as minhas pirraças de menina, basta que você me olhe para que as coisas todas, mesmo sem sentido, percam a força de me incomodar. Não é anestésico. Às vezes, só às vezes, me dá a impressão de que vc é meio sádico. Que gosta quando eu chorosa, sem ter para onde correr, me despenco sem saída, ao seu lado. A saída seria simplesmente ignorá-lo. Eu consigo fazer isso. Mas, uma hora ou outra, a sua lembrança me invade assim avassaladora, me deixando sem escolhas, como um raio paralisante. Não sara a dor. Não arranca as feridas. Não tira o jugo (que agora pesa como uma bigorna). Mas, talvez, me faça outra. Me faça uma espécie de Hulk cor-de-rosa (ainda tem hífen isso??) que carrega os pesos com a graça e a leveza de uma bailarina. Nós dois sabemos que de Hulk eu não tenho nada, ainda que as máquinas fotográficas fajutas tenham a certeza disso e tentem me fazer mais gorda, mais torta, mais sabotável. Como se eu mesma não me sabotasse o suficiente. Também não tenho nada de bailarina. Não sei dançar e finjo saber lutar. Não quero dizer que te amo, mesmo que tudo diga o contrário. Ainda estou emburrada, a chuva repentina deixou estragos por aqui. Pode ver na televisão, saiu até no Fantástico. Não me afoguei, ninguém me salvou também. Não sei nadar, mas as enchentes constantes me fizeram desenvolver minhas próprias estratégias, sem ter de depender de vc. Não pq vc não me salvaria se eu gritasse. Só estou afônica, não quero mais gritar. O sol já está de volta, um pouco tímido. Logo me distraio com ele, te abraço como se nada tivesse acontecido e sigo a sina que me cabe, um pouco sem escolha. Não estou brava com vc. Não deixei de te amar nenhum milímetro (ainda que pense que deveria muito fazer isso). O seu olhar e coração garantem que tudo seja eterno, mesmo que o aqui diga que acabou. O aqui não fica. O aqui já passou... passou de novo... acaba de passar...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Fechado

Uou, que nublada anda essa página! Tudo bem, eu me dou um desconto. A vida não é feita só de sol, estou sim um pouco mais sensível do que o normal, mas tudo isso faz parte do plano de ser mais eu. Paciência, constância e jogo de cintura. Me falta tudo isso, mas eu aprendo!

sábado, 10 de outubro de 2009

O cão bastardo

Num dia insatisfeito, numa maré de revolta, numa calmaria impiedosa, acabo de assistir Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. A arte redime a vida real. Se eu fosse escrever o meu roteiro hj ia ser assim; “era uma vez um cachorro. Cansou de abanar o rabo e mordeu. Morreu com raiva. Feliz.” O sangue eu pedia emprestado pro Tarantino: já que a ideia é completamente fraca e a vida tb, algo tem de ter qualidade.

Agora sobre o filme: muito bom! Aquela loucura toda, a violência banalizada, personagens fictícios tão reais. Uma raiva incontida que faz extravasar. E um humor sutil, inteligentíssimo e, claro, negro. Ser ator num roteiro desses deve ser muito louco!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Que situação...

Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho - Adélia Prado

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Despertador

Ficaria de vigia se pudesse saber
Com exatidão a hora marcada de sol
Quando invade a luz e desperta
A inadvertida essência
Desse turbilhão sem nome

Desligaria com apenas um toque
Pediria mais dez minutos
Antes de pousar os pés no chão frio
Antes de estranhar o incômodo desconhecido
Não teria de escolher as cores
Não teria de saber as formas

Continuaria em repouso sereno
Sonharia as marcas por mim criadas
Viveria em meio à bruma
Sem receio de expansão, sem frio
Sem nada