terça-feira, 6 de abril de 2010

À Capela

Felicidade é ver teus olhos
Sabê-los insistentes sobre mim
É ouvir teu coração inquieto
Mesmo que o único som possível
Seja a tua palpável ausência
São teus passos orvalhados
De madrugada no meu quarto
Enquanto persigo um sono resistente
A mim, ao meu sólido cansaço
É esse jogo de ignorância e ciência
Que te faz sorrir triunfante
Pois te busco sem tréguas
É tua teimosia frente ao desânimo
É tua alegria no meu tormento
Por ti, por tudo aquilo que é teu
Tudo aquilo que é seguro
Enquanto não sou capaz de discernir
Entre o que sou eu e o que és em mim
É o desejo cego por tua chama
Capaz de me guiar certeira no escuro
Que é agora a minha alma
Sombria, desolada, de gelo
O amor no que tem de bruteza
Que lapida o que de mim é ainda terra
E torna em ti, amor que é homem
Que deseja, rouba, devora e, incansável, gera

* escrito em novembro de um ano pilão

De água

Eu bem que disse que seria um encontro com a inspiração. Inspiro novos cheiros e expiro cores que permaneceram tempos dentro de mim. Mas não secaram nem desbotaram. Hidratadas. Quando penso em hidratadas, hidratação e hidros, essa coisa toda de água, é como se o mar inteiro viesse me beijar os pés. E o sal sou eu. Ele é só hidro, essencialmente hidro. H2O sem NaCl nenhum. O NaCl sou eu. Com sabor recuperado.
Sabor é outra palavra com poder de sensação. Misturam-se hidro e sabor. Sou água, sou sal. Sou o que o Mar fez de mim. Incansável hidro que bate. Leve, com espuma. Brava, com espuma. Sem espuma. De repente, sou puro espumante!