terça-feira, 26 de abril de 2011

é ou não é...

Eu confesso: gosto de enrolar até a última hora pra fazer o que tenho de fazer. Mas, quando pego pra fazer, sou teimosa feito pedra e quero que as coisas se desenrolem no meu tempo. Têm dias, porém, que o universo conspira, que as outras pessoas não estão a fim, que o tempo está nublado, que simplesmente não é o dia. Hoje é esse dia. Ou hj não é o dia. Nada, absolutamente nada, andou até aqui. E eu vou ficando sufocada, numa ânsia de ver o caldo engrossar. E nada. Não tem farinha, o gás acaba, não era uma safra boa. Só sei que hj não é o dia. Ou é o dia. E eu precisava mesmo aceitar, serenamente, que têm dias que não rolam. Os astros indicam, os números conspiram, o metereologista acerta. E aí todas as previsões avisam: hj é o dia. Ou hj não é o dia. Ok, ok. Pode ser que não seja o dia. Será que pode ser à noite, então?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Morrer de amor

Ser jornalista tem dessas coisas. A gente ganha pouco (a gente que eu digo, os simples mortais, que não aparecem nos noticiários da globo ou assinam reportagens megaespeciais ou escreve livro contando a incrível experiência de cobrir fatos extraordinários pelo mundo), trabalha muito, quase sempre não é reconhecido ou tem de se curvar aos caprichos de editor ou chefe. Isso quando, como assessor, não se transforma apenas em secretária de luxo. Enfim, não comecei a escrever isso pra lamentar. Só pra contar uma história linda que ouvi hoje.

A melhor coisa do jornalismo, na minha opinião, é ouvir histórias. Histórias de pessoas reais, que acordam cedo, que trabalham, que sofrem, se divertem, que vivem o dia a dia sempre esperando ganhar na megasena ou o fim de semana ideal pra pescar ou simplesmente deitar no sofá e esperar pelo Fantástico que anuncia o fim do fim de semana.

Claro que não precisa ser jornalista pra ouvir histórias. Mas geralmente jornalista tem mais experiência com isso (claro, se não for um sem noção que se preocupa mais com o ego do que com o interlocutor).

Eu estava voltando para a prefeitura depois de fazer uma entrevista. O motorista comentava sobre como tudo tem prazo de validade (falávamos de asfalto). E ele continuou:

- Até gente tem prazo de validade. Veja bem, o ser humano tem o prazo de validade de 127 anos!

- Nossa, tem gente que não ta completando esse prazo! – Ri.

- Verdade! – ele sorriu de volta. O homem mais velho do mundo morreu com 114, na semana passada.

- Eu entrevistei uma senhora de 110 anos, mais saudável do que eu – comentei com ele

- Era negra, não é?!

- Sim!!

- Negros são muito mais resistentes mesmo. Vivem mais. Meu avô morreu aos 88 anos. E só porque quis.

- Ele quis morrer? – A gente que gosta de ouvir histórias desenvolve pequenas técnicas simples para incentivar o outro a contar (técnicas usadas para o bem e para o mal, tem quem use só para o mal).

- Sim, ele quis! Minha nona morreu numa quinta e foi enterrada na sexta-feira à tarde. À noite, meu nono pediu para dormir na minha casa. Eu conversava com ele na beirada da cama, antes que ele pegasse no sono. Então, ele me disse: ‘Vou encontrar a nona’. ‘Pare com isso, nono, ela andava implicando muito com o senhor, não deixava beber aquela pinguinha, ela está bem’. ‘Ah, mas eu não quero viver sem ela’. E foi perdendo o pulso, devagar, e morreu bem ali na minha frente.

- O senhor está brincando! – desacreditei.

De verdade, parece história de livro, não é possível acreditar. Eu vivo num tempo em que meus amigos ficam casados um ano e meio e se cansam de brincar de casinha. O amor anda meio doente, ultimamente. Não se pode acreditar num amor que mata, a não ser que seja supreprodução cinematográfica. Coisa de Gabriel Garcia Márquez.

- Eu estou te dizendo, minha filha. Eles ficaram juntos por 80 anos. Se conheceram aos 8 anos de idade, cresceram juntos e viveram juntos até a morte. Meu avô morreu sorrindo, feliz. Morreu de paixão.

Pausa minha. Morreu de paixão foi lindo!!! Nunca na minha vida ouvi uma história real assim. Não estou sendo piegas, de verdade! Na semana passada, uma amiga se casou. Era o que ela mais queria na vida. Foi lindo e tal. Mas eu mantive a frieza, não chorei, não me emocionei. Mas essa história foi demais. Ainda bem que eu estava de óculos escuros. Juro, meus olhos marejaram. E ficou ainda pior.

- Eu tenho 63 anos, sou casado há 38 anos. Amo a minha mulher cada vez mais. Falam que amor acaba com o tempo. Isso não existe, amor de verdade aumenta como tempo!

Gente! E ainda tem gente que acredita que amor acaba! Ai, que ouvir uma coisa dessas numa segunda-feira faz um bem danado! E incentiva a perder o medo de amar. Li hj mesmo que é necessária muita coragem para que alguém aceite ser amado sem resistência (Sándor Márai). Estou aprendendo e histórias como essas são sempre uma boa lição!