terça-feira, 29 de setembro de 2009

Nem um pingo

Silêncio
As palavras calaram
Não obstante isso,
Fazem um barulho ensurdecedor
Encontram-se escondidas
Em convenções secretas
Capazes de enlouquecer
Os que se atrevem a ouvi-las
Silêncio

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Do que me surpreende

O pé da mesa tem uma rosca que pode ser solta ou presa para acabar com aquele incômodo de ficar balançando... Descobri isso ontem. Tem tanta coisa que eu não sei. E me surpreendo ao saber que não sou mesa, mas tenho as minhas manhas para que as coisas deixem de incomodar ou fiquem como eu gostaria que fossem. Tem coisa mais boa e assustadora do que se surpreender consigo mesmo?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Como uma porta

Se eu fosse menos teimosa, talvez fosse mais feliz também. Mas deixaria de viver coisas importantes. Ainda não entendo, então, se minha teimosia é vantagem ou desvantagem.
Tenho pensado em muitas coisas, ultimamente. Quase todas sem valor algum. Mas essas coisas têm me tirado o sono. Uns sentimentalismos bobos. Uns fatalismos que me matam. Perco tempo útil da vida considerando coisas quase sempre inúteis. Se eu pudesse parar de pensar e começasse a viver, talvez, seria mais feliz também.
Umas saudades infundadas. Umas recordações inusitadas. Umas suposições que quase sempre deságuam em nada. Viver dói. Como dizia Clarice Lispector, viver é tão incomum que só vivo porque nasci. Essa frase diz tudo numa clareza. E eu ainda tento entender.
As pessoas são estranhas. Eu sou a rainha das estranhezas. Quero tudo. Quando consigo não aproveito ou me canso muito fácil. Pq as coisas impossíveis me parecem tão mais saborosas? Sou uma menina mimada em frente à vitrine, esperneando e gritando: “eu quero”. Imperiosa. Sofrível. Pq aquilo é lindo lá na vitrine. Mas pode não caber na minha vida. Pode ser puro glacê. Gordura pra enganar os olhos e inchar o estômago. Mas eu sou assim, enquanto não cravar os meus dentes nisso, não me canso.
Ai, tem horas que daria tudo pra não ser eu. Dá uma gastura ficar batendo em teclas só pq quero. Ponto de honra. Sempre meus pontos de honra...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mais uma vez, a moça com sal no nome

Então, quando ela canta e eles tocam, ou melhor, quando brincam com as notas em palavras lúdicas de outras crianças, esqueço que a vida parece completamente sem sentido. Quando meus ouvidos se dão conta da beleza e dizem aos meus olhos que eles têm pouca ou nenhuma serventia, apesar de serem tão importantes, compreendo que não vou precisar de sentido ali sentada. Por isso, Roma instituiu a política do pão e circo. De barriga cheia e de alma saciada, ninguém quer revolução nenhuma. Saciado, o animal dorme, como escreveu Graciliano Ramos, eu acho. Se ela, se eles, se dispusessem a brincar pra que eu veja e ouça, pelo menos uma vez por mês, calariam essas vozes indiscerníveis. Curariam minha esquizofrenia sem diagnóstico, provocada por milhares de mim que não cansam nunca.
Não me canso de elogiá-los. Não me canso de lembrá-los. É como um encontro marcado. Mas não sou correspondida. E não me importo. O que importa é o que consigo extrair sem que percebam. Se eu fosse mais sensível, teria chorado e chorado a ponto de desespero. Graças a Deus, não sou sensível quanto acho que gostaria de ser. Sem isso, já sofro de sofrer. Invento e desenho sofrimento onde ele não está. E não sou capaz de dar forma a ele. Não sou capaz de dar forma a quase nada. E lamento muito...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aparências

Passamos o dia todo juntos. É ele quem me observa nos momentos de estresse e participa quando rio alto de alguma coisa engraçada. Há quatro meses tem sido assim. Religiosamente, passamos sete, oito horas por dia juntos. Apenas aos fins de semana, nos distanciamos. Mas quando retorno, lá está ele, impassível e cheio de vida a me esperar. Às segundas, faço questão de fornecer-lhe sustento. E ele agradece se tornando ainda maior aos meus olhos (e também aos olhares de quem o conhece), mais cheio de vida a cada dia que passa. Aliás, acompanho sua evolução com tanto zelo e carinho... A cada novo avanço ou centímetro de crescimento, me sinto recompensada e como se eu mesma tivesse crescido com ele.
Ainda que aos outros pareça espinhoso, para mim, ele é sinal constante de presença e amor. Basta olhá-lo para saber que sou amada, apesar de mim. Quando nos apresentaram, me disseram que nos daríamos muito bem. Não pelos espinhos que todos criticam em nós. Mas pela força e resistência que aparentamos ter. Mas nós dois sabemos que é só aparência. Os espinhos protegem nossa sensibilidade e fragilidade. Quando nos vimos a primeira vez foi como um amor instantâneo.
É assim o meu cacto, que ganhei de presente de um grande amigo e mora sobre a minha mesa no jornal!

p.s.: essa flor não é do meu cacto. Achei que se colocasse a foto dele, ia entregar logo a identidade secreta do meu novo romance! Hahahahaha. Ah, mas ele está lindo, verdinho e crescendo que só!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Displicência

Perco as contas de quantas vezes por mês eu penso em largar tudo. Essa insatisfação constante ainda vai me custar tão caro. Já custa.

domingo, 13 de setembro de 2009

Nas alturas

Gosto de filme de criança. Já fui ao cinema sozinha assistir desenho animado e, pasmem, chorei. Então, natural até, que eu fosse assistir “Up – Altas Aventuras”. Natural até que eu chorasse. Mas não daquele jeito! Que beleza de animação. Que sensibilidade do roteirista e dos responsáveis pelos desenhos.
Ah, queria contar tudo aqui, mas para os meus poucos leitores que não viram, iria estragar as surpresas. Só quero destacar dois momentos: a sequência em que eles envelhecem. Maravilhosa!! Tentei não chorar, mas as lágrimas escorreram involuntárias. E a sequencia em que ele se desfaz de algumas coisas.
A gente planeja tanta coisa. Sonha com inúmeras situações, projeta. E se apega a elas. Quando não saem como a gente queria, pensa que foi tudo perdido. Tenho a sensação cotidiana que já perdi muito tempo. Que enterrei sonhos. Que mato todo dia um dia que poderia ter sido. Só que o até aqui foi vida. Mesmo que pareça só o seguir, prosseguir, o ganhar o pão todos os dias.
Tudo isso pra dizer que vale muito a pena ver “Up – Altas Aventuras”. Aviso aos mais sensíveis: segurem as lágrimas, o cinema vai estar lotado de crianças e não queremos assustar os pequenos!!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Twitter (2)

Ou eu arranjo um trem desses ou vamos aos Twitter (100).

- Mais do pop: “eu não passo de um brinquedo desmontável”. Só que ninguém sabe brincar!

- Mais de Hilda Hilst:
“Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.”

- Colo (entranhas) é irracional. Não quer saber se é consolo ou lava. Quer é ser impulsivo como se espera que seja. Não tem razão nem coração. Tem é a natureza urgente, caprichosa e sem reserva.

- Já falei de Cem Anos de Solidão, né?

- Ando meio saudosa de amigos, realidades, trabalhos, cidades, sentimentos...

- Tão bonitinha a Santinha e o Fio do Demo!

- Por que eu estou escrevendo aqui mesmo??

sábado, 5 de setembro de 2009

Twitter

Horas que eu queria ter um twitter pra dizer:

- O mundo está ao contrário e ninguém reparou.

- Eu não sou o que pareço ser, portanto, pro bem ou pro mal, sou uma farsa.

- Queria ser poeta. Tenho algumas sementes em mim, mas me parecem tão pobres.

- "Cem anos de Solidão" é realmente uma obra prima. Estou apaixonada pelo Coronel. Eu sempre me apaixono pelos coronéis. Mas eles têm de viver cem anos de solidão...

- Devia ter amado mais... (Nossa, como estou pop!)

- Esse não caberia no twitter, mas como isso é um blog, vai (estou pop e acabei de me apaixonar por Hilda Hilst, então os meus parcos leitores vão ter de suportá-la até que o encantamento se esvaia):

Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora

Há tanto tempo sua própria tessitura.

Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.

(Júbilo, memória, noviciado da paixão - Hilda Hilst)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A persistência da busca

Uma mistureira de coisas boas. O tempo anda colorido por aqui, apesar da chuva que cai amistosa lá fora. Ainda digerindo o retiro, um encontro revelador com o Homem, o Deus feito homem. Barulho incansável por dentro. Remoendo a leitura do “A Obscena Senhora D”, de Hilda Hilst (eu sabia que tinha de me encontrar com ela!). Hillé me falou das máscaras pintadas de sentimentos que deveríamos usar, talvez elas diriam mais da gente do que essa cara lavada. Ela me disse também dessa busca incessante. É preciso saber lidar com os nossos vazios, sem ignorá-los, mas sem deixar que nos tornem vazios como eles. A obsessão por encontrar pode matar a busca. Por outro lado, se alienar a ela pode deixar o ser humano raso rasinho...
Feliz meio sem explicação. Às vezes, isso dá um medo enorme. Mas não quero deixar de viver o bom por receio de que ele acabe. Eu sei que vai acabar mesmo. Na semana que vem, na próxima TPM, nas frustrações tão presentes em cada passo que dou, nas possibilidades que não saem do esboço feliz que eu faço do próximo fim de semana.
Tão bem, mas tão bem, que to pensando em limpar a casa amanhã. Deixá-la clara, cheirosa e fresca. Uma vez, a monja Coen me deu uma entrevista e disse que limpar a casa é bom para que a gente deixe também o interior em paz. A paz quer sair e cuidar da casa. A louca da casa está no jardim claro e cheio de sol.