sábado, 15 de março de 2008

Ser missionário...

Quem irá por nós? Eis-me aqui, Senhor, envia-me!
E lá se vão os missionários...
O que é ser missionário? Às vezes, fico perdida pensando que eu sou jornalista porque é o mais cômodo para mim. Tenho meu carro, minha casa, meu trabalho, meus e minhas que garantem tranqüilidade, segurança, talvez.
Nessas horas parece que todos os sonhos que eu tinha de estar a serviço de Deus e do próximo escorreram pelo ralo do cotidiano que engole todo ser humano. Que o desejo de transformar caiu no conformismo de me sustentar, ganhar o meu pão.
Pq não tive a coragem de abrir mão do meu diploma e ser freira? Pq não deixei minha formação acadêmica e fui viver em uma comunidade de vida? Pq não coloquei a serviço de uma organização eclesiástica o meu talento profissional? Nesses momentos, vejo os meus talentos todos enterrados: serva má! Pq não soubeste cuidar do único talento que te dei, vou tomá-lo...
Hj estive em uma cadeia feminina. Como uma boa dama cercada no meu castelo de cristal nunca tinha entrado em um lugar desses. Realidade nua e crua na carne de uma sociedade doente. Queria ser azeite. Estava ali profissionalmente e tento muito dividir as coisas quando estou trabalhando. Mas o desejo de ser o local em que o Cristo reclina a cabeça foi mais forte.
Aquelas pessoas ali têm culpa. Muita! Senão não estariam ali. Mas não tinha lá nenhuma socialite que desviou dinheiro. Nem nenhuma madame cleptomaníaca... Estavam ali mulheres que a sociedade cuidou para que estivessem. Não que a sociedade é a grande monstra da questão. Nada de maniqueísmo. Seria infantil demais pensar que uma cadeia é apenas um aglomerado de vítimas.
Mas aquelas mulheres me mostraram a potência da minha missionariedade. Foram a resposta à minha oração de ontem. Sou formadora de opinião. Se eu não ocupar o meu lugar na sociedade, outras pessoas o farão. E pode ser que não tenham o meu coração. Pode ser que sejam melhores, é claro. Mas podem ser menos tocadas pelo envio do que eu. Deus, quero a graça de saber e assumir o meu lugar na messe.
Sou missionária. Sou jornalista!

sábado, 8 de março de 2008

Parada

O tempo parou. Três pessoas fizeram isso e não foi a Santíssima Trindade (mas sem dúvida ela também esteve ali pra contemplar o mistério!). Mônica Salmaso, Teco Cardoso (sopro) e Toninho Ferragutti (acordeon). Três instrumentos que enganaram o tempo com a música. Foi uma hora e meia com um sorriso babão na cara, passando os olhos encantados do acordeon pra Mônica, dela pro Teco - que só não tocou tubo de pasta de dente (pq não tinha um lá, se tivesse, ele tiraria som, sem dúvida!).
Viajei mais de cem quilômetros pra ouvir essa voz ao vivo e pessoalmente. Não tinha como não encarnar a tiete e ir conversar com ela depois que acabou. Calcei a cara e pedi um abraço (quer coisa mais tiete??). Olha, foi uma noite e tanto de exorcismo. Eu disse a ela que costumo chamá-la de minha exorcista.
Os instrumentos entraram em cena e o tempo parou. Parecia que eu tinha ficado horas a fio ouvindo, ouvindo, ouvindo... Fiquei surpresa ao perceber que havia passado apenas 1 hora e meia.
O inefável não se explica, não é mesmo? Quando tiver a oportunidade, vá ver esse trio. Vá ouvir essa voz. Fica fácil perceber que Deus existe quando se escuta essas notas bem traçadas. Ele estava lá. Não perde um show desses! Encantado sempre com a criação que é imagem e semelhança...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Humano

A Páscoa está chegando. Amo esse tempo. Não como todo cristão deveria amar, mas amo. Primeiro pq a tradição da Igreja me ensinou que essa é a maior festa do calendário cristão. Depois, pq é o tempo que Jesus se revela inteiro a mim: humano e divino. Dois momentos ápices para mim. A Ressurreição pq mostra o Jesus, Filho de Deus. E o Getsêmani pq mostra o Jesus, Filho do Homem. Momento em que Ele precisou de mim! É demais um homem tão humano precisar de alguém. E de mim, tão desfigurada, tão desfeita.
Na agonia, Jesus exerce a humanidade purinha. É o momento em que Ele, livremente, escolhe o caminho que vai traçar. Ali, Ele poderia ter dito não. Como pensou em dizer: "Pai, afasta de mim esse cálice". Mas opta por mim. Pela humanidade: "mas não se faça a minha vontade".
Jesus exerce a liberdade do homem. Dignifica a humanidade, ali. E é nesse momento, de maior dignidade do ser, que Ele olha pra mim e me pede que fique com Ele. Eu que não canso de repetir: fica, Senhor, comigo.
Para mim, a agonia é o momento em que minha humanidade toca inteiramente Jesus. Não é Ele que vem até mim para me elevar. É Ele que vem até mim e assume o meu lugar de gente. E me pede ajuda pra isso.
É no Getsêmani que me sinto mais unida ao coração do meu Amado. Pq é quando Ele decide-se integralmente por mim. É também momento de decidir-me integralmente por Ele. E todos sabemos o que vem após o Horto das Oliveiras...