segunda-feira, 7 de março de 2011

Corrida

Saudades de escrever. É que são tantas coisas pelas quais tenho apenas passado. Eu gostaria tanto de permanecer um tempo parada nelas, mas o tempo urge! E tem caprichos só dele como se só existisse ele nesse mundo de ponteiros e tic-tac. Quando me descuido, já foi. E eu nem pude gastar o quanto gostaria, fico à margem, com cara de quero mais. Tempo... Tem jeito de ser menos cruel? Você não tira férias? Nem aproveita feriado? Dias santos, menino, a esses você deveria se curvar respeitoso, atônito diante do silêncio dos penitentes. Mas você não tem pai nem mãe, seu indecente! Desalmado que gosta de contrariar os amantes, torturar os que sofrem, assustar criancinhas que se vêem logo logo invadidas pelo seu passar cruel, sem alma, impiedoso. Você que insiste em contar segundos quando eu gostaria que as horas corressem livres, sem rédeas. Você que come e engole horas quando cada segundo tem sabor único. Ah, seu filho de chocadeira que nunca sentiu o aconchego de um colo. Seu tribufu que desconhece o silêncio da madrugada insone! E não há quem te castigue, não há quem te faça passar pelo desalento dos minutos de despedida, nem quem te force a esperar por vc que decide vir evitando as linhas da calçada, brincando inconsequente com insetos na sarjeta ou permanecendo parado a olhar pro nada com olhos vidrados de quem finge que pensa na vida. E, ainda assim, se gaba de tomar de você mesmo dos outros, catando pelos que sofrem com você, cantado em verso, prosa e linhas sem valor como essas. Não tem nem vergonha de atormentar Aldir Blanc e ganhar de Nana Caymmi atenção que não merece. Trégua, amigo, apenas um tempo de trégua!

Resposta ao Tempo

Nana Caymmi

Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer