terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Para 2010

Não é uma questão de atrair ou planejar. É só querer. Um querer desses que faz olhar para a frente, saltar os montes, atravessar correnteza. Enfim, desses quereres que não conhecem não. Duas opções para essa insistência veemente: alcançar ou amargar uma frustração difícil de se desfazer. Na primeira opção, o querer há de, inevitável e infelizmente, envelhecer, perder o gosto, a elasticidade e virar memória (boa, mas só memória). Na segunda opção, vira poesia. E a poesia, meu amor, ah a poesia... É a esperança mesmo que não haja mais nada, lembrar constante do que poderia ter sido e não foi, não será - não aqui, talvez nem nesse lugar. A poesia é o fim alternativo eterno. Não é um deleite despreocupado do desejo. É crueza que passa pelo filtro inconstante e imperfeito que eu sou. Ah, a poesia, meu amor...
É o que eu desejo em 2010: quereres que não aceitam não. Assim serei feliz serena. Ou poeta.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Da utilidade

Então nos tragou essa necessidade de ser útil. Como máquinas com manual de instrução ou animais treinados para rodar a moenda e carregar fardos até a exaustão. Quando não encontramos funcionalidade naquilo tudo que vivíamos parece que acabaram-se as pilhas. Tentamos, em vão, trocar. A fraqueza abateu tudo e não houve alcalina que resolvesse o nosso impasse.

Não havia também assistência técnica especializada na lista telefônica. Procurei do meu jeito, você do seu. Não houve. Um não constante diante de um beco completamente fechado. O escuro e tudo o que dele viesse a ser. O escuro não é assim esse vilão. Foi apenas o reflexo de um estado em que chegamos juntos. Apagamos uma a uma as luzes que nos carregaram até aqui.

No princípio era o próprio Luzeiro Maior. E quando faltava essa luminescência, outros menores enfeitavam o que para nós era gala, festa e transbordar constantes de líquidos aconchegantes que dividíamos, multiplicávamos. Éramos, apesar de. Éramos.

Eu me levantava e fazia o café com o cheiro forte que te despertava de sonhos em que eu mesma te colocava. A mim me agradava o café mais fraco, mas o fazia negro e espesso para saciar o paladar que você deixava em minha boca. Era sua a minha utilidade.

- Me faz um café...

- Hãn? - Despertei com a tua voz pouco desperta.

O seu pedido naquela manhã, todas as manhãs depois que não precisou pedir qualquer coisa que fosse deveria ter me servido de alerta. Uma das luzes extinguiu-se. Sem aviso, talvez de maneira tão imperceptível.

Com a mesma devoção de meses, pus-me de pé. Mais uma vez, coloquei três colheres bem servidas de pó no filtro e esperei pacientemente que a água fervesse na leiteira, depositada com cuidado na maior das bocas do fogão elétrico. A energia que fizera o fogo. A utilidade de um simples botão. Basta um toque e fez-se o fogo. O fiat que não mais se pronuncia, se aperta.

Café era a única coisa que eu tinha a capacidade de tirar da matéria-prima na cozinha. E a sua utilidade, antes mesmo de corrigir os meus textos em inglês ou arrumar os meus livros desajustados na estante, era me manter longe das dietas compostas por instantâneos. Talvez, se eu tivesse te permitido ser mais útil. Se eu não tivesse arrumado o chuveiro quando a resistência parou de resistir. Se eu não tivesse matado as baratas que percebiam sua ausência para fazer delas o meu apartamento. E se eu tivesse te ligado aos prantos quando a água insistiu em invadir minha casa. Mas não. Não te deixei ter a utilidade do macho que protege a indefesa fêmea da caverna.
Saí da caverna e te deixei sozinho nela. A culpa não é minha. Muito menos sua. Nos amamos, nos utilizamos. Fomos úteis. Mas de alguma forma as coisas pararam aos poucos pelo caminho.

No copo, daqueles que vinham com requeijão dentro, pairava um café bege. Fraco como graveto comido por dentro. E você sorriu quando apareci pelo vão da porta da cozinha, com ar ainda sonolento.

- Acho que você perdeu a hora, meu bem. - E me entregou o café ao meu gosto. Doce e ralo, do jeito que você sempre se recusou a tomar. Um gesto desesperado de se desprender do próprio sabor para abrigar a minha coisa. O que eu fiz, incansavelmente, mas sem qualquer cobrança durante o tempo que permanecemos iluminados. Não te pedi pagamento por ser útil ao seu paladar, esse era a minha contribuição, como um adicional de fábrica..

Perdi a hora, me perdi no tempo e deixei que se apagassem mais algum daqueles luzeiros que nos guiavam. O atraso em que me envolvi, o caminho equivocado pelo qual me embrenhei impediram que eu desse atenção para os pequenos apagões que se fizeram no cotidiano da casa que partilhavamos. Sob o teto que chamamos nosso, instalou-se uma espécie de racionamento não determinado por lei, mas pela prudência desavisada que nasce com o ser humano e estoura em períodos de alerta.

Talvez foi culpa desse racionamento eu não ter percebido de imediato quando os seus livros de filosofia pura partiram da confusão da poesia esparramada pelos volumes na estante.

- Onde estão os seus livros? - me dei conta, uma semana depois de diversos vazios terem se instalado na estante.

- Precisei levá-los para a faculdade – você disse.

Deixar no abandono a minha poesia era mais uma lâmpada que apagamos, uma que estava em posição estratégica. Apagá-la foi fulminar uma cadeia inteira delas. Solitários, aqueles versos todos me desencaminham, rompem um lacre, tornam infinitos horizontes outrora próximos e reais, que moravam dentro das possibilidades. Você sabia disso.

- Intercalei Vinícius com Descartes. Assim, eles se ajudam e constroem um amor menos doloroso e triste, mais lógico. - E eu ria quando você me explicava porque deixou a Clarice ao lado de Nietszche ou Hegel perto da Lygia Fagundes Telles. Assim, um por um, você os tinha mudado para a minha estante, tempos antes de retirá-los sem aviso prévio.

Quando percebi a ausência dos seus clássicos, meus olhos encheram-se de lágrimas. Nós sabíamos, sem palavras, o significado daquele abandono literário. E você me abraçou com seus braços de paz, beijou-me da maneira terna e pacificadora. E, pela última vez me amou com um amor de amante antigo, sossegado. Na manhã seguinte, levantei-me e passei o derradeiro café preto. Negro, sem piscas, sem luzes, sem reflexos.

Interessante é que não resisti. Não à maneira de fera ferida, de animal que se debate quando abatido. Apenas conversamos, procuramos uma solução que nos tornasse novamente úteis um ao outro. Não havia. Você me ensinara o que eu precisava saber do que, à sua maneira, era viver, organizara minhas roupas, meus livros e pensamentos. Eu te desarrumei o que precisava de desordem e tirei amarras que você julgava arrimos. Fomos úteis um ao outro. Já não havia mais funcionalidade para nós.

Antes mesmo que eu notasse os armários vazios de você, em mim já não havia nem mesmo uma gravata abandonada em algum canto qualquer. As suas malas estavam postas ao lado da porta da cozinha e o cheiro de café, preto e forte, feito por você era predominante no ambiente. Não dissemos nada. Você apenas beijou carinhosamente a minha mão direita, essa que eu uso para escrever, para alisar os cabelos ou coçar os olhos da maneira infantil, como você gostava de ver. Se divertia com esse gesto primitivo. Eu, resignada, deixei que você partisse, devolvendo um beijo no seu rosto com a barba sempre impecável. Marca da sua civilidade e asseio.
Agora, perdido e sem rumo, entre Hilda Hilst e Drummond, está o volume do “Crítica da Razão Pura”. Kant ficou esquecido na estante. Para mim, já sem nenhuma utilidade.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Anúncio

Conjunto de histórias boas e ruins. Esses cheiros todos que rodeiam a vida, cores estranhas que tornam-se familiares e sensações que se perdem. Antes tão vivas, agora resquícios na lembrança. O Natal traz de novo e de novo o que os dezembros me levaram e anuncia um incansável recomeçar de janeiro. Se pudesse, estenderia os dezembros, eliminaria os janeiros. Não porque não gosto de começos, mas prefiro o anúncio. Paro nos anúncios, brinco com eles, dou a eles as cores que me agradam, os toque tão meus. E quando o anunciado vira início, é algo de se lambuzar, mas fica embaixo do tapete o anúncio que me fiz, a previsão que não tomou o corpo que minha fantasia quis. Amo dezembro desde o início. Acho que escolhi dezembro. Podia ter sido fim de novembro, mas novembro tem sempre um gosto amargo de fim. Não aquele fim tranquilo de conclusão competente. É o fim cinza, anunciado também, anúncio para o qual finjo uma surdez de nascença.
As luzes que apontam a Luz maior, que escolheu o escondido para se fazer grande, não iluminam, mas tornam o caminho mais belo, mais encantado. E a beleza está no quão passageira elas são. Não duram um mês, não duram nada. Como uma felicidade que nasceu condenada a se apagar quando passar dezembro. Dezembro é esse mês iluminado que antecipa o início e torna o fim um pouco menos morte, menos fim. Apenas o anúncio, uma pausa no meio do turbilhão que afoga. É uma pausa para que se retome a melodia que ludibria, porém, garante a insistência, a busca contínua e incansável de ser.
Não desejo que o natal seja feliz. Desejo que seja total. Não quero que o ano novo seja feliz, anseio que seja completo...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Não acordei

O sono é uma espécie de aliado de um universo interior. Quando acordo sem acordar direito fico o restante do dia entre um mundo onírico e o real. A sensação é de que oscilo entre o mais absoluto concreto de ser aqui e agora, e a bruma, a sombra de nunca ser em lugar nenhum.
Hoje, abri os olhos custosamente. Pedi ao relógio alguns dez ou vinte minutos a mais. Clemente e disciplinado me deu o que eu pedi, nada mais, nada menos. Então saí da cama, mas não acordei. Descerrei as pálpebras, mas não veio comigo aquela coisa interior que teria de andar colada a esse corpo completamente real. Tão real que chega a cansar. Objetivo como um lide. Quem, quando, como, onde e por que? Todas essas respostas à flor da pele, nada além dela.
Não é sonambulismo, que sonâmbulo não vê. É um misto de saber, mas não reconhecer. As emoções, então, têm certeza de que podem atravessar os limites que a coesão lhes impõe. Pq a coesão não acordou. Está entre o edredom e o travesseiro.
As respostas prontas e impensadas são apenas um reflexo da confusão que o que está solto por dentro deixa escapar para disfarçar. É como uma identidade secreta ao contrário. Ou uma ocupação. Um corpo estranho que mora em mim antes mesmo de mim.
Então, enquanto essa flutuância some em algum lugar que desconheço - mas que é meu, sou eu -, olho o que é concreto e invejo. Queria isso tudo. Esses brilhos, essa constância, esses sorrisos e festas. Queria o salto alto, o vestido longo. Queria esse conjunto, a grama alheia. Meu ouro se ofusca e parece latão, pq na realidade não está ao alcance. Quando não acordo nada em mim é tangível, nada em mim é real. Sendo completamente concreto. E é esse concreto que me faz querer cerrar esses olhos que enganam ver. Só enganam. Estão fechados, escuros, com sono.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ter sido

Tão cansada hoje... Sempre que me vem esse cansaço, me lembro da Clarice: não estou triste, estou cansada. Não é aquele cansaço de dormir e melhorar. É uma estafa de tudo, inclusive de mim. Coisa de gente grande que eu não queria ter. Ontem, vi o Dines falando de jornalismo e tive saudades de quem não fui. De tantas Arianas que não foram. E me lembrei de um poema lindo do Vinicius, chamado O Haver. Sim, há o haver. É essa poesia não vivida. O que fazer dela?
Acho que deve ser mais ou menos assim que estou (ah, chorável se ouvir aqui enquanto ler):

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo:
— Perdoai! — eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia de simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano, ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
E transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do Grande Medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do próprio reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Círculo ferrífero

O ferro com gosto de sangue
Um pouco do que está agora
Que deixa de pulsar
Que para de correr
Que deixa esse gosto azedo
Mas não deixa de ser vida

É a ferida aberta e não vista
Dia após dia, como água em pedra
Bate em mim esse líquido
Essa viscosidade toda
Essa umidescência oculta
Amolece, cansa, impulsa

O gosto de ferro insiste
Como esfera explode inerte
Língua, dentes e mãos
Não há nada que possa ser feito
Nada que se evite
Acontece imprevisível

Corre nas veias o ferro
Corre no ferro essa vida
Fria, dura, escura
Se aquece no fogo da alma
Escorre vermelho disforme
Não deixa de ser ferro

Não deixa de ser vida

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Granulado

A campainha do celular chama insistente, enquanto o relógio marca 7h30 da manhã. Por um instante não me lembrei que a data merecia ligações, felicitações e outras demonstrações. O que significa comemorar mais um ano, afinal? Quando criança, essa data era verdadeiramente uma festa. Começava na noite anterior quando na cozinha enrolávamos os docinhos para o dia seguinte. Na tarde do grande dia era a vez das bexigas, enquanto os homens cuidavam de estender a lona sobre o quintal, uma forma de proteger os convidados em caso de chuva. Mão providenciava roupa nova para a ocasião e colocava uma colcha bem bonita na cama, que acolheria cuidadosamente os presentes (de preferência brinquedos porque roupa não é presente que se dê pra criança).
E vinha a festa, os amigos, os adultos, as músicas, brigadeiros roubados das franjas do bolo que, vez ou outra, tinha meu nome escrito em doce colorido.
Alguns anos depois, a festa com baile no fundo do quintal, a música lenta que embalava os primeiros casais aos pés da jabuticabeira. Frutos negros e brilhantes como aqueles olhos que ainda não viram tudo. Salgados e nada de adultos com docinhos.
Depois as festas na faculdade, antecipados os presentes, comemoração de férias, de fim de semestre de notas. Um misto de presente e despedida.
E agora. Não faz muito tempo que tudo isso passou. Ou faz tempo demais e não me dei conta de que é tudo passado ou uma história que já foi contada. Por que aniversário, afinal?
As vozes revezam-se no ouvido. Chegam de espaços distantes. Não poderão comer cajuzinho em volta do bolo com bolinhas. Mas lambuzam-se de brigadeiro em espaço que é deles, em algum canto de mim. Há os que mantiveram silêncio por um ano. Há os que falam todas as semanas, todos os dias. É dia de chocolate. E o sabor de cada um deles se instala em cada poro, em cada canto. O aniversário é deles. E eles o melhor presente que poderia ganhar. Os ganho todos os dias, hoje eles só mandam entregar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Tolerância

Estou escrevendo uma matéria sobre tolerância. E me lembrei de uma música de infância: é tão lindo, não precisa mudar, é tão lindo, deixa assim como está, e eu adoro, é claro, difícil é a gente explicar essa amizade entre nós... Com Simoni e Roberto Carlos. Tinha abolido um pouco o tom confessional aqui, mas acho que vale: as pessoas estão cada vez menos tolerantes. Assustador.
Eu já fui completamente intolerante com o que não era eu. O tombo que levei há alguns anos me fez rever tantas coisas. E, às vezes, me sinto tolerante demais com as situações, com as pessoas, com tudo e isso dá medo.
Mas voltando ao fato da intolerância. Na sexta-feira, fui ao cinema. Sala VIP só gente que se pode considerar de um nível social mais elevado (eu pago meia e quis fazer esse agrado pra minha irmã que estava por aqui). Cinco minutos de filme e senti uma pancada forte na minha poltrona, virei pra trás e um homem, de uns 45 anos, mais ou menos, estava agredindo um adolescente de 15 anos, que tinha sido indelicado com a mulher dele. Esbravejou, gritou, arrastou o menino até a porta do cinema. Todo mundo parado, sem saber o que fazer diante daquela situação. Quando um moço tentou segurar o cara, levou pancada tb. E a namorada do moço tentou separar a briga, quase apanhou, coitada. Eu fiquei esperando subirem a vinheta do Festival Internacional de Teatro. Não era possível que estávamos todos presenciando aquele tipo de cena em um cinema. Fato é que algumas pessoas mais se rebelaram pq não queriam continuar na sala de cinema com aquela situação. Enfim, foi um barraco dos mais barraquentos que já vi na vida.
É inacreditável como qualquer minúscula coisa é capaz de gerar uma guerra. É impressionante como as pessoas sustentam uma pose de que são modernas e que são capazes de acolher todas as idiossincrasias mas na hora do vamos ver é tudo fachada. É assustador. Acho que entendo um pouco do que aconteceu na Uniban com a moça Geyse. Não importa o que ela é, que tipo de roupa usa, o que fez ou deixou de fazer. Não é ela que está em questão. É a reação das pessoas frente ao que não é elas. Eu penso que as pessoas se dão muita importância. E acreditam mesmo que tem o melhor jeito de vida. E que todos deviam ser iguais.
Até o nome de Deus as pessoas têm a petulância de usar para condenar comportamentos e posturas. Só me lembro que o próprio Deus fez: tinha lá uma prostituta que por lei deveria ser apedrejada. O Deus desafiou: quem nunca pecou, atire a primeira pedra. E fez mais, almoçou com políticos ladrões, com mulheres de índole duvidosa e confraternizou com pessoas “impuras”. E eu gosto desse Homem, tenho tanto a aprender com Ele!
O que não era igual amou os que não eram iguais. A gente ainda tem o que aprender. E pode ser que a gente aprenda. Essa é minha esperança! Até lá, meninas, cuidado com os vestidos curtos demais. Pessoas, não exibam comportamento diferente do que se espera nos cinemas, nas festas, nas ruas. Moços e moças, fica um conselho do Ivan Lins, cantado pela Elis: nos dias de hj, não lhes dê motivo, porque na verdade eu te quero vivo...