quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Granulado

A campainha do celular chama insistente, enquanto o relógio marca 7h30 da manhã. Por um instante não me lembrei que a data merecia ligações, felicitações e outras demonstrações. O que significa comemorar mais um ano, afinal? Quando criança, essa data era verdadeiramente uma festa. Começava na noite anterior quando na cozinha enrolávamos os docinhos para o dia seguinte. Na tarde do grande dia era a vez das bexigas, enquanto os homens cuidavam de estender a lona sobre o quintal, uma forma de proteger os convidados em caso de chuva. Mão providenciava roupa nova para a ocasião e colocava uma colcha bem bonita na cama, que acolheria cuidadosamente os presentes (de preferência brinquedos porque roupa não é presente que se dê pra criança).
E vinha a festa, os amigos, os adultos, as músicas, brigadeiros roubados das franjas do bolo que, vez ou outra, tinha meu nome escrito em doce colorido.
Alguns anos depois, a festa com baile no fundo do quintal, a música lenta que embalava os primeiros casais aos pés da jabuticabeira. Frutos negros e brilhantes como aqueles olhos que ainda não viram tudo. Salgados e nada de adultos com docinhos.
Depois as festas na faculdade, antecipados os presentes, comemoração de férias, de fim de semestre de notas. Um misto de presente e despedida.
E agora. Não faz muito tempo que tudo isso passou. Ou faz tempo demais e não me dei conta de que é tudo passado ou uma história que já foi contada. Por que aniversário, afinal?
As vozes revezam-se no ouvido. Chegam de espaços distantes. Não poderão comer cajuzinho em volta do bolo com bolinhas. Mas lambuzam-se de brigadeiro em espaço que é deles, em algum canto de mim. Há os que mantiveram silêncio por um ano. Há os que falam todas as semanas, todos os dias. É dia de chocolate. E o sabor de cada um deles se instala em cada poro, em cada canto. O aniversário é deles. E eles o melhor presente que poderia ganhar. Os ganho todos os dias, hoje eles só mandam entregar.

3 comentários:

Carol Gioseffi disse...

Estou perplexa com a sensibilidade de suas palavras. Me emocionei por dentro. Me vieram na lembrança minha humilde infância, qnd tbm enrolava os docinhos da minha festa!
Meu Deus que saudade!
Obrigada, por me fazer relembrar fatos simples me me recordam quem eu sou!
Deus te ilumine sempre.
Paz...

Bia R. disse...

menina, meus aniversários eram iguais. perdeu um pouco a graça de fazer aniversário agora. quero a cama lotada de presente de novo e a casa cheia de gente. bj e feliz aniversário, amiga linda!

Geisa Paiva disse...

Também me emocionei com suas palavras!Identifiquei-me com grande parte do seu relato, até mesmo com a jaboticabeira no quintal!

Seu blog já se tornou leitura obrigatória pra mim!

Que Deus mantenha essa sensibilidade em vc!

Beijos