sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mais uma vez, a moça com sal no nome

Então, quando ela canta e eles tocam, ou melhor, quando brincam com as notas em palavras lúdicas de outras crianças, esqueço que a vida parece completamente sem sentido. Quando meus ouvidos se dão conta da beleza e dizem aos meus olhos que eles têm pouca ou nenhuma serventia, apesar de serem tão importantes, compreendo que não vou precisar de sentido ali sentada. Por isso, Roma instituiu a política do pão e circo. De barriga cheia e de alma saciada, ninguém quer revolução nenhuma. Saciado, o animal dorme, como escreveu Graciliano Ramos, eu acho. Se ela, se eles, se dispusessem a brincar pra que eu veja e ouça, pelo menos uma vez por mês, calariam essas vozes indiscerníveis. Curariam minha esquizofrenia sem diagnóstico, provocada por milhares de mim que não cansam nunca.
Não me canso de elogiá-los. Não me canso de lembrá-los. É como um encontro marcado. Mas não sou correspondida. E não me importo. O que importa é o que consigo extrair sem que percebam. Se eu fosse mais sensível, teria chorado e chorado a ponto de desespero. Graças a Deus, não sou sensível quanto acho que gostaria de ser. Sem isso, já sofro de sofrer. Invento e desenho sofrimento onde ele não está. E não sou capaz de dar forma a ele. Não sou capaz de dar forma a quase nada. E lamento muito...

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