quarta-feira, 8 de julho de 2009

Palavra de canalha

Li esse texto no livro "Canalha!", de Fabrício Carpinejar (que se pode conhecer melhor aqui. Vale a pena). Ele conseguiu pegar a essência da coisa... Gi, esse vai especialmente pra vc! E vc sabe o porquê!!

Não me apresente aos amigos

Amor não é caridade nem filantropia. O que ofende a solidão é alguma amiga chegar e comentar: “Tenho um amigo pra te apresentar”. Ela não está consultando sua opinião, não pede uma resposta, já marcou o encontro e a descreveu ao pretendente. O panorama recrudesce se o programa não é a dois, mas assistido, com a participação de outros casais a narrar, comentar e fazer “hola” a cada aproximação. Desde quando solteira é atração de circo?
“Tenho um amigo pra te apresentar” é a frase mais escabrosa que se pode ouvir. Uma forma de chamá-la indiretamente de encalhada. Mais agradável designa-la gorda. A amiga se julga uma Madre Teresa de Calcutá, distribuindo riquezas aos pobres e diminuindo a desigualdade. Deseja ajudar, mas, no fundo, atrapalha. Em nenhum momento, cogita a hipótese de que se está muito bem sozinha.
Pelo fato dela estar com namorado ou casada, não suporta que alguém esteja solteira. Quer exterminar as solteiras da cidade, pois não é suficiente casar; o mundo tem de casar junto com ela para não se arrepender ou questionar sua rotina.
A solidão é também uma escolha. Infelizmente, em nossa cultura casamenteira, é filtrada como uma inabilidade em encontrar uma cara-metade, é vista como incompetência amorosa.
Quando se escuta “tenho um amigo pra te apresentar”, lamenta-se não ser avestruz ou toupeira para se esconder em um buraco.
Perderá o controle da própria vida, a pose, o orgulho, o luxo da iniciativa. Ela inicia uma campanha de mobilização, em que todos saberão que está disponível. Lança-se um pedido de socorro, e a pretensa afogada toma sol na areia. Com a fragilidade escancarada, vexame é pouco, será difamada nos almoços familiares.
“Tenho um amigo pra te apresentar” indica, ao mesmo tempo, que não desfruta de condições para conseguir sozinha e pelos seus méritos uma paixão.
Sua independência é confundida com carência, seu apartamento, com oferta do Sine (Sistema Nacional de Emprego).
Amor encomendado nunca funcionou. Como fazer render um encontro em que a expectativa mínima é a de namoro e a máxima de um casamento? Amor surge ao léu, de imprevisto, sem nenhuma preparação psicológica e pesquisas de opinião.
Não se passa por teste vocacional, o amor pode contrariar a carreira.

2 comentários:

bia disse...

Baum falar com a senhorita!!!

Ariana disse...

Amiga, passa um pouco desse mel!! Ow, liga mais vezes!!! Bjos! Saudades!