sábado, 7 de novembro de 2009

É tudo uma brincadeira

Saí às pressas do jornal para chegar a tempo de conseguir um bom lugar para degustar o show do Toquinho, que inaugurou o Teatro do Sesi, em Rio Preto. Duas crianças brincavam enquanto esperavam que a mãe encerrasse o expediente e fossem juntos para casa.
"Tá frio"- e o menino se movia.
"Tá esquentando"- e o menino se esmerava mais.
"Tá quente"- E continuaram até que eu não mais ouvisse esse jogo de encontrar e perder.
A vida tinha de ter uma voz dessa para cada ser humano. Quando eu me aproximasse do que vale a pena, escutaria: "tá esquentando". Quando me afastasse de uma oportunidade realmente indispensável, imediatamente, ouviria voz glacial: “ta frio”.
Seria um termômetro do bem viver. Não teria erro. Nem esse jogo cansativo de tentativa e acerto. Se a vida fosse uma brincadeira de criança, eu ficaria feliz quando me “queimasse” encontrando, finalmente, um graveto, uma moeda ou seja lá o que fosse que o outro tivesse escondido de mim.
Mas não é assim. Não tenho voz (pelo menos não audível com ouvidos naturais) que me orienta, não tenho dicas de onde procurar ou quando estou mais perto ou mais longe, não sei, muito menos, o que esconderam de mim e eu fico inutilmente me desgastando para encontrar. Com a mesma avidez daquele menino na porta do jornal.
Aqui dentro, no entanto, não deixa de esquentar ou esfriar. As vozes não dizem com clareza quando estou próxima ou distante de encontrar o que quero, o que busco, mas se disfarçam em textos, músicas, olhares e gestos. Eu me esmero como o menino.

2 comentários:

Elton disse...

Se essa voz existisse, facilitaria muito nossas vidas.

Carol Gioseffi disse...

Bom, minha querida, não é a voz que não existe, é o portador da mesma que está calado. Sabe porque?
Porque Ele está de mãos dadas conosco, nos encaminhando em direção a descoberta (tá esquentando!).
O que ocorre, é que insistimos em soltar - lhes as mãos para chegar na frente. Preciso dizer quem é o nosso guia? Acho que não...
Tenha uma Ótima Tarde!