segunda-feira, 1 de junho de 2009

Milícia celeste

Não posso dizer que nunca vi um anjo. Vi e ouvi, pelo menos, uns setenta deles no último domingo. Era coroação de Nossa Senhora. O suficiente para me fazer chorar. Mas quando aquela legião entrou pelo corredor central cantando com aquelas vozes infantis: “manda teus anjos sobre nós...” Pensei: como é que podem pedir anjos se eles mesmo estão entrando assim com essas túnicas de cetim brancas, rosas, azuis. Eu vi a milícia celeste.
Tive certeza. Estava no céu. Só podia ser o céu. Um monte de coisas passou pela minha cabeça. O que ainda esperava por eles. As decepções, os amores, as alegrias, as intrigas. Tudo o que ainda vão viver, que os tirará dos ares angelicais. Que os fará ser, pouco a pouco, apenas humanos. E os condenará a correr, dia após dia, atrás dessa mesma inocência que os fez cantar a plenos pulmões ao longo do caminho pelo corredor central da Igreja.
Sorriram, encantaram, dançaram, fizeram festa e coroaram a menina pretinha que aceitou deixar o modo angelical para ser só gente. E nos deu a possibilidade de ser realmente humanos. É para ela que se volta o meu olhar desejoso de manter aquela inocência das crianças mas ter a grandeza de ser essencialmente humana.
Momentos como esses me levam mais para mim. Têm o poder de me transcender e tornar um pouco mais gente em um mundo que esqueceu-se de ser angelical mas também ainda não aprendeu a ser humano.

Nenhum comentário: