domingo, 8 de junho de 2008

Quem me navega é o mar...

"Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como bem fosse levar"
(Timoneiro, Paulinho da Viola)

Antes de escrever, quero partilhar o trecho de um grande amigo, professor Jean Lauand: "O latim se vale de verbos chamados depoentes precisamente para essas ações minhas mas que não são predominantemente minhas; eu as protagonizo, mas não sou senhor delas, estou condicionado fortemente por fatores que transcendem o eu e sua vontade de ação" ( texto inteiro aqui)

Estive, de sexta à noite a domingo à tarde em um retiro. Espiritualidade de Santo Inácio, cada um fez um retiro consigo e Deus. A gente não conversava ou trocava experiência. O único a falar e ouvir era o próprio Deus, pelos meios que encontrava!
Uma das primeiras meditações que fizemos foi justamente a dessa música. Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...
Assustador! O mar é enorme, gigante, quase infinito! E eu lá no meio dele! É assim com a vida. Ela é imensa, repleta de oportunidades. E não tem cabelos em que a gente possa agarrar pra se sentir mais seguro.
A busca pelas seguranças me atraca ao porto. Deixo de viver, quando me agarro às possibilidades que me são conhecidas, portanto confiáveis.
Eu não vivo a vida. Sou vivida. Não sou agente completamente dominador dessa realidade. Claro, tenho o meu poder de escolhas, mas cada escolha me põe ainda mais no desconhecido, no incerto do mar. Cada decisão é como tirar o apoio dos pés! E isso é o que vale! Nesse momento, quando aceito renunciar as seguranças que criei pra mim, evoluo. Cresço e faço crescer.
Quem nunca tomou um "caldo"? Faz parte de se estar em alto mar. E deixa a gente mais esperto também!
Que eu não abra mão do mar só porque ele não me oferece segurança. A vida é um risco. Corrê-lo ou não é por nossa conta. Tem gente que passa pela vida atrelada ao porto. Quero ser navegada bem muito pelo mar das possibilidades da existência!

Vale a pena ouvir essa música: Timoneiro

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como bem fosse levar

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz

Um comentário:

Alexandre Gil disse...

boas colocacoes. Preciso apreender a me largar do porto, facil pensar, mas nao e facil agir, juro que tento, mas como e dificil avancarmos em aguas mais profundas ne!!!

quem sabe precise de ajuda? vai saber....

bj