terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Fracassos que levam além

Os que me conhecem de mais perto sabem do meu imenso carinho por uma personalidade espanhola fantástica: Teresa de Jesus. Mais conhecida como Santa Teresa D'Ávila, essa mulher impressiona pela força e por estar séculos à frente do tempo em que viveu. Enfrentou regras, governos, sociedade e a própria Igreja para mudar uma estrutura (foi a reformadora do Carmelo). Acreditou e deu-se completamente em favor a uma causa. Mas o que mais encanta não é essa força toda. O que mais me faz admirar essa mulher é o fato de que não nasceu pronta. Foi se tornando quem tinha de ser gradativamente. Só começou a reforma do Carmelo com mais de 40 anos (ainda tenho tempo para fazer diferença na realidade em que estou!!)!
Teresa teve dois grandes pilares para ser quem era. Um pequeno frade (que ela chamava de meio), João da Cruz, e um amigo, uma alma-irmã, chamado padre Jerónimo Gracián. Ninguém se faz sozinho. Com esses homens, Teresa chorou, trocou confidências, derramou a alma e os sonhos que trazia consigo. Foi essa troca que fez de Teresa, Teresa, de João da Cruz, João da Cruz e padre Gracián, padre Gracián.
Ao fim da vida dos três, aparentemente, os ideiais mais puros que carregavam consigo fracassaram. Teresa morreu e, depois disso, seus dois grandes amores foram perseguidos pela Ordem que ajudaram a reformar. O grande doutor da Igreja, São João da Cruz, acabou os dias em um mosteiro no qual não era o mais querido. Padre Gracián foi expulso da mesma ordem pela qual doou a vida. Foi vendido como escravo por seus irmãos de congregação...
A história de grandes seres humanos faz-se também de grandes derrotas. De fustrações, desilusões, sofrimento. O que se faz disso tudo é que torna a pessoa digna de ser mirada (entenda-se por mirada algo muito mais do que olhar). É a forma de lidar com o que é próprio da vida que torna a pessoa completamente livre para ser. Acima de qualquer lei, acima de qualquer regra ou amarra. Ainda dá tempo...

"Certa noite, após o jantar, chegou às portas do convento um homem que tinha sido esfaqueado, gemia e pedia por confissão. Tendo ouvido os gemidos e apelos do pobre homem, Gracián disse: 'vamos rápido atendê-lo em confissão.' Mas uns tantos lhe chamaram a atenção: 'não se pode abrir a porta, é contra a obediência'. 'Que obediência! Não há que obedecê-la, vamos atendê-lo antes que morra', contestou Gracián e saiu para ouvir a confissão do moribundo. Aqueles que não queriam que a porta fosse aberta passaram a incriminá-lo dizendo que ele ignorava o voto de obediência e que dizia coisas que chegavam perto da heresia" (Jerônimo Gracián de la Madre de Dios OCD: o herdeiro exilado - José Alberto Pedra)

Ser humano condenou o padre Gracián. Quero ser condenada assim! Quero encontrar muitos condenados assim pelo caminho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhoso seu texto, querida Ariana!! Desse jeito vou me tornar sua fã e se brincar até sua discípula... hehehe... o mundo carece de pessoas com tua determinação e visão das coisas.
Fique na paz!!
helena