sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Clara, clareando...

"(...) um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só. (...) Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade." (Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres - Clarice Lispector)

Estou assustada o quanto esse livro fala de mim! E eu que não ia com a cara da Clarice Lispector. "O mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos". Nem eu saberia descrever com tanta precisão o que acontece comigo!
É exatamente isso, o mundo me transcende e essa paixão por ser mortal me assassina aos poucos.
Na semana passada falei em um encontro para algumas pessoas. Para mim, um dos momentos mais marcantes foi quando falei sobre a humanidade de Jesus. Dos domingos em família, do tempo que gastava com os amigos, com os parentes. Hoje estive com a família do Mateus. Entrei na história dele. E fiquei imaginando a história de Jesus. O tio sanfoneiro Dele. A tia que fazia os doces. É a humanidade de Jesus que me redime! É o Jesus que se deixa ser humano que justifica a minha existência. É a Sua Paixão que leva ao fim comum de todos os mortais que me faz amar apaixonadamente a mortalidade. É o Seu amor inconseqüente pelo mundo que faz com que o mundo me transcenda.
"E o que é que eu faço? Que faço da felicidade?"
Deus!

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