sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Feito ferro
sexta-feira, 27 de maio de 2011
ou isto ou aquilo
A gente devia saber que escolher entre um bombom e outro na caixa intacta, quando ainda criança, previa um futuro nebuloso. Começa assim: em 81 eu não tinha de escolher nada, só tinha a função de comer e dormir, pelos próximos anos, eu apenas tinha de aprender, sem escolhas, não precisava, se eu fizesse qualquer birrinha ou chorava até cansar e me distrair com outras coisas, ou meus pais, cansados de tanto chororô, se rendiam ao meu charme em água e sal pelo rosto. Em 87, eu tinha de escolher entre um chokito que o meu avô trazia todas as vezes e um prestígio, entre vagem e salgadinho, entre brincar de boneca e pique-esconde. Em 88, as coisas já começaram a complicar pq ganhei concorrência. Mas grandes mudanças, como as de cidade, de casa, por mais que transformassem completamente a minha realidade, não cabiam a mim. As coisas começaram a complicar quando, do nada, exigiram que eu escolhesse o que queria ser quando crescesse. Daí pra frente, ferrou tudo! Eu que decido o que quero comer, vestir, se vou dormir cedo, tarde, até as mudanças que transformam completamente a minha realidade cabem a mim! Por favor, quero meu pai e minha mãe decidindo por mim de novo! Que minha decisão mais complicada seja em entre o sonho de valsa e o lancy. E que eu acabe ficando sempre com os dois! Amém!
terça-feira, 26 de abril de 2011
é ou não é...
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Morrer de amor
A melhor coisa do jornalismo, na minha opinião, é ouvir histórias. Histórias de pessoas reais, que acordam cedo, que trabalham, que sofrem, se divertem, que vivem o dia a dia sempre esperando ganhar na megasena ou o fim de semana ideal pra pescar ou simplesmente deitar no sofá e esperar pelo Fantástico que anuncia o fim do fim de semana.
Claro que não precisa ser jornalista pra ouvir histórias. Mas geralmente jornalista tem mais experiência com isso (claro, se não for um sem noção que se preocupa mais com o ego do que com o interlocutor).
Eu estava voltando para a prefeitura depois de fazer uma entrevista. O motorista comentava sobre como tudo tem prazo de validade (falávamos de asfalto). E ele continuou:
- Até gente tem prazo de validade. Veja bem, o ser humano tem o prazo de validade de 127 anos!
- Nossa, tem gente que não ta completando esse prazo! – Ri.
- Verdade! – ele sorriu de volta. O homem mais velho do mundo morreu com 114, na semana passada.
- Eu entrevistei uma senhora de 110 anos, mais saudável do que eu – comentei com ele
- Era negra, não é?!
- Sim!!
- Negros são muito mais resistentes mesmo. Vivem mais. Meu avô morreu aos 88 anos. E só porque quis.
- Ele quis morrer? – A gente que gosta de ouvir histórias desenvolve pequenas técnicas simples para incentivar o outro a contar (técnicas usadas para o bem e para o mal, tem quem use só para o mal).
- Sim, ele quis! Minha nona morreu numa quinta e foi enterrada na sexta-feira à tarde. À noite, meu nono pediu para dormir na minha casa. Eu conversava com ele na beirada da cama, antes que ele pegasse no sono. Então, ele me disse: ‘Vou encontrar a nona’. ‘Pare com isso, nono, ela andava implicando muito com o senhor, não deixava beber aquela pinguinha, ela está bem’. ‘Ah, mas eu não quero viver sem ela’. E foi perdendo o pulso, devagar, e morreu bem ali na minha frente.
- O senhor está brincando! – desacreditei.
De verdade, parece história de livro, não é possível acreditar. Eu vivo num tempo em que meus amigos ficam casados um ano e meio e se cansam de brincar de casinha. O amor anda meio doente, ultimamente. Não se pode acreditar num amor que mata, a não ser que seja supreprodução cinematográfica. Coisa de Gabriel Garcia Márquez.
- Eu estou te dizendo, minha filha. Eles ficaram juntos por 80 anos. Se conheceram aos 8 anos de idade, cresceram juntos e viveram juntos até a morte. Meu avô morreu sorrindo, feliz. Morreu de paixão.
Pausa minha. Morreu de paixão foi lindo!!! Nunca na minha vida ouvi uma história real assim. Não estou sendo piegas, de verdade! Na semana passada, uma amiga se casou. Era o que ela mais queria na vida. Foi lindo e tal. Mas eu mantive a frieza, não chorei, não me emocionei. Mas essa história foi demais. Ainda bem que eu estava de óculos escuros. Juro, meus olhos marejaram. E ficou ainda pior.
- Eu tenho 63 anos, sou casado há 38 anos. Amo a minha mulher cada vez mais. Falam que amor acaba com o tempo. Isso não existe, amor de verdade aumenta como tempo!
Gente! E ainda tem gente que acredita que amor acaba! Ai, que ouvir uma coisa dessas numa segunda-feira faz um bem danado! E incentiva a perder o medo de amar. Li hj mesmo que é necessária muita coragem para que alguém aceite ser amado sem resistência (Sándor Márai). Estou aprendendo e histórias como essas são sempre uma boa lição!
segunda-feira, 7 de março de 2011
Corrida
Resposta ao Tempo
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos
Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Temporã
domingo, 29 de agosto de 2010
Do que é próprio da eternidade
E quem descobriu mais de uma dúzia desses? Quem os tem esparramados por outras cidades, outros cantos, diferentes formas, tamanhos, endereços, rostos, sorrisos? Quem tem mais, bem mais de um amigo desse tipo é o que? Um milionário? Um abençoado? Um feliz? Pela lógica, a resposta rápida e impensada diz retumbante: sim! Mas quem tem um monte desses é alguém dividido. Não consegue se dedicar com tudo de si a um deles, como faria se tivesse um só. As saudades de quem encontrou mais de um desses é um poço sem fim. Quem foi agraciado com uma dúzia desses precisava do dom de bilocar, de trilocar, de se dividir em quantos amigos assim haja, para estar mais e mais com eles. Ou tinha de ser milionário de dinheiro mesmo. Para estar com todos um pouco de cada vez e tirar deles o que há de melhor, se dando também. Eu encontrei alguns desses e estar com eles é sempre algo que as palavras são incapazes de apreender e fazer apreender. É puro símbolo. Simbologia difícil de ser falada. Por instantes, quando estão mais do que um desses ao meu lado, tenho a certeza de que o céu é a mais pura realidade e acontece ali, exatamente ali, naquele instante que, de tão intenso, torna-se eterno. É tão incrível saber que são assim mesmo: um tesouro pelo qual não batalhei, foi simplesmente encontrado! E o banquete eucarístico, a comunhão, acontece na mesa de um bar, nos bancos de um metrô, com samba rock, em um festival de curtas, de teatro, no santo altar e, também, no seio da Vida. Eles me fazem mais eterna, me ensinam porque o Verbo se fez carne. Pq realmente vale a pena ser carne! Ainda que seja nela que se sofre, é nela também que se ama!! "Pois tal como ele é, assim é seu amigo"(Eclo 6, 17).